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A linguagem inclusiva é um instrumento de comunicação, textual ou oral, que se preocupa estruturalmente em não excluir ou diminuir nenhum grupo de pessoas através de adaptações de vocabulário, sem mudar o idioma e suas regras. Seu objetivo é trazer a representatividade e identificação por meio da abordagem falada ou escrita.
Construir a diversidade e a inclusão passou a ser um dos maiores objetivos do século XXI. Por conta disso, essa tendência da linguagem inclusiva está adentrando em todos os setores da sociedade e passou a ter prioridade e um alto valor no mundo corporativo.
Mas para promover a diversidade e a inclusão nas empresas, o trabalho precisa se concentrar nas mudanças de hábitos e em novos mindsets, ou seja, ações simples do dia a dia.
Hoje, a comunicação interna e externa das empresas é base para o seu crescimento e sua estabilidade.
Mais que isso, a linguagem é um instrumento que reproduz valores e crenças, muitas vezes, de forma inconsciente, influenciando comportamentos e pensamentos inclusivos ou de opressão social.
Logo, para ampliar as políticas internas de diversidade das empresas, a linguagem inclusiva passou a ser um elemento-chave para a concretização da inclusão proposta.
Neste artigo, você vai aprender o que é a linguagem inclusiva, como usá-la no seu negócio, além de suas vantagens e importância para os colaboradores.
O que é linguagem inclusiva
De maneira bem simples, trata-se de um instrumento de comunicação, textual ou oral, que se preocupa estruturalmente em não excluir ou diminuir nenhum grupo de pessoas através de adaptações de vocabulário, sem mudar o idioma e suas regras.
Em outras palavras, é uma linguagem que agrega ao invés de excluir e agredir e, assim, engloba todos os tipos de narrativas sem mudar a língua portuguesa e sua gramática.
Ainda a linguagem inclusiva tem como objetivo trazer a representatividade e a identificação por meio da abordagem falada ou escrita.
Dessa forma, ela faz referências a todas as pessoas que estão na empresa, individual e coletivamente. Isso concretiza a inclusão social, no ambiente organizacional, de todos os grupos da sociedade.
No caso da língua portuguesa, é ainda mais importante adotarmos a linguagem inclusiva, uma vez que, desde os anos de 1960, o gênero masculino passou a ser considerado o gênero neutro do idioma.
Dessa forma, o português se construiu e ainda se constrói no cotidiano com fortes marcações de gênero. Por isso, para não dar continuidade a esses costumes de exclusão e garantir a plena inclusão de um colaborador na empresa, o cuidado com a linguagem inclusiva deve ser adotado.
Diferença entre a linguagem inclusiva e a linguagem neutra
Linguagem inclusiva e linguagem neutra são abordagens diferentes em relação a como a linguagem pode ser utilizada para quebrar o ciclo da exclusão social e da desigualdade.
Mas apesar dessas diferenças, as práticas são complementares, portanto, recomenda-se que sejam adotadas lado a lado com a política de diversidade das empresas.
A linguagem inclusiva, como mostrado acima, apresenta adaptação nas falas e nos textos, a fim de incluir todos os colaboradores, sem mudar o idioma e suas regras gramaticais.
Já a linguagem neutra se apoia na modificação ou criação de novas palavras, para que a tradição linguística seja completamente quebrada.
Nem melhor, nem pior, são linguagens que utilizam estratégias diferentes, adaptação ou transformação, para chegar ao mesmo resultado: inclusão plena.
Qual a importância nas empresas
A linguagem, no âmbito geral da sociedade, tem impacto individual e coletivo, o que, institucionalmente, transforma ou mantém sistemas.
A diversidade vem sendo um dos principais palcos de mudanças sociais nos últimos tempos, logo, se a empresa não acompanhar esses avanços sociais o ambiente de trabalho será cada vez mais hostil.
Com isso, o seu negócio se afastará do foco do mercado: que são empresas que apresentam boas condutas em relação à sociedade, meio ambiente e governança.
Ainda, é preciso lembrar que o capital humano é base estruturante de qualquer empresa, portanto, a integração, o bem-estar e a identificação do colaborador são importantes para um bom ambiente de trabalho e uma maior produtividade.
Dentro dessa lógica podemos pensar em diversos benefícios do uso da linguagem inclusiva nas empresas, tanto para os negócios como para os colaboradores.
Dentre eles, podemos citar:
- comunicação interna e externa mais eficiente;
- diminuição de conflitos na equipe;
- aumento da sensação de pertencimento e identidade, o que diminui a taxa de turnover da empresa;
- garantia de um employer branding, já que o colaborador se sente incluído e pertencente àquela marca;
- a empresa cumpre seu papel social e inclusivo, apresentando condutas sociais importantes para o mercado (ESG);
- a empresa se mostra como um local de apoio e base para o colaborador, trazendo mais lealdade e confiabilidade;
- melhoria da imagem da empresa no mercado;
- coerência com as transformações sociais do presente e reafirmação do papel da empresa nessa transformação para um mundo inclusivo;
- destaque com o público: sendo eles clientes ou possíveis colaboradores;
- a empresa se torna fonte de denúncia e reflexão frente a problemas sociais, como o machismo, a intolerância de gênero e o racismo;
- valorização, respeito e acolhimento à diversidade de maneira horizontal e sem privilégios.
Tipos e como aplicar
Existe uma infinidade de formas e combinações para se utilizar da linguagem inclusiva na rotina de trabalho.
Por ser uma língua complexa, no Português não faltam opções para adaptações mais inclusivas.
Mas é possível citar alguns tipos de linguagem inclusiva que tornam esse complexo exercício mais concreto:
- linguagem não-sexista (sem exclusão dos diversos tipos de gênero);
- comunicação não violenta (comunicação com empatia);
- linguagem anti-racista e anti capacitista (linguagem que evita uso de expressões racistas ou que pré-julgam a capacidade das pessoas).
Dentro dessas linguagens, algumas estratégias nos ajudam a aplicar esses tipos:
- concentre no uso de coletivos e palavras genéricas para se dirigir a um grupo de pessoas. Ex.: usar “a juventude” ao invés de “os jovens” e “classe política” ao invés de “os políticos” etc. (linguagem inclusiva, não-sexista);
- preocupe com o pronome para se dirigir e fazer referência a alguém;
- tenha cuidado com os adjetivos sexistas e opte por expressões neutras e generalistas;
- não utilize adjetivos ou palavras que transmitam convenções sociais estereotipadas.
Os cuidados com a linguagem inclusiva
Apesar de ser um conceito bem simples, a linguagem inclusiva é um exercício complexo e muito sensível, pois trabalha com a identidade das pessoas.
Por esse motivo, pode ser desafiadora a implantação da linguagem inclusiva nas empresas.
Mas isso não é motivo para não aplicá-la, e sim para ficar atento a alguns detalhes:
- apesar de ser recomendado utilizar expressões genéricas e neutras, é preciso tomar cuidado para não reduzir identidades e simplificar as complexidades das pessoas. Lembre-se de sempre considerar a interseccionalidade e valorizar o indivíduo.
- em um primeiro momento, pode parecer desconfortável implantar mudanças no vocabulários das pessoas, por isso é importante aprofundar na compreensão dos seus colaboradores em relação ao vínculo da linguagem com o poder e a cultura.
- tome cuidado com o “lugar de fala”, mesmo com a utilização da linguagem inclusiva, é sempre importante prestar atenção em quem está falando e qual é o seu “lugar social”. É essencial esse reconhecimento para valorizar as individualidades dos colaboradores e respeitar suas histórias e lutas.
- novos problemas de comunicação podem surgir, por exemplo, uma maior dificuldade para pessoas com deficiência visual compreenderem a linguagem inclusiva escrita e, muitas vezes, a comunicação ficará mais longa e repetitiva. Para essas questões, é importante ficar atento às necessidades individuais, estar aberto ao feedback dos colaboradores e lembrar que a língua é plástica e completamente adaptável às novas demandas.
Como colocar em prática através do RH
Quando estamos falando de um cuidado com os colaboradores, o setor de Recursos Humanos se torna o centro na implantação dessas atividades. Não é diferente em relação à linguagem inclusiva.
Uma das principais funções do RH é a gestão de capital humano, e essa gestão engloba: a inclusão, a compatibilização da identidade do colaborador com a empresa, a inserção no time e o acolhimento.
A linguagem inclusiva faz parte de todo esse processo e é central para a gestão de pessoas e para a cultura organizacional da empresa.
Mas para implantar a linguagem inclusiva, o setor de RH tem que tomar algumas providências essenciais para que, aos poucos, ela se torne um hábito.
Dentre as atividades de responsabilidade do RH que podem conduzir a construção da linguagem inclusiva, podemos sugerir as seguintes:
- no onboarding, pergunte aos novos colaboradores como eles gostariam de ser referenciados: nomes, pronomes e palavras que as pessoas e as comunidades escolheram. A partir desse momento, inclua em todas as formas de comunicação os pronomes escolhidos;
- conteúdos de marketing, sites e outras ferramentas de comunicação externa devem refletir a linguagem inclusiva interna;
- escolha sempre narrativas variadas para os conteúdos da empresa;
- avaliação rotineira de comunicação e relação, por meio de pesquisas, reuniões e feedbacks individuais;
- comece a implantação pelas lideranças, pois esses devem ser o exemplo de comportamento e de mudança de mentalidade;
- promova conhecimento sobre inclusão social e linguagem inclusiva. Conscientização e educação dos colaboradores são essenciais para a absorção dessa nova linguagem;
- utilize cartilhas, espaços físicos e virtuais e eventos para a orientação dos colaboradores e proposição de novas práticas;
- adote a linguagem inclusiva em todos os meios de comunicação interno: e-mails, comunicados, eventos internos etc.;
- divulgue canais e conteúdos que ampliem o conhecimento sobre diversidade;
- implante o hábito de constante reflexão e autocrítica sobre as palavras e a forma de comunicar entre os colaboradores. É um exercício constante que exige dedicação;
- enfatize como principal valor da empresa o respeito às escolhas e preferências alheias e o fato de que a linguagem deve refletir isso.
Agora que você já sabe todo o caminho da implantação da linguagem inclusiva e entende a importância dela para a concretização da diversidade na empresa, comece a praticar essas mudanças na comunicação e lembre-se do papel central do RH!
Agora que você já aprendeu um pouco mais sobre linguagem inclusiva, que tal saber mais sobre diversidade no mundo corporativo? Baixe e leia quando quiser o nosso e-book e torne-se um expert em inclusão social corporativa!